domingo, 16 de outubro de 2011

A NATUREZA E FUNÇÃO DA LITERATURA

Por: Edimilson Lobato e Sérgio Lourinho

A NATUREZA E FUNÇÃO DA LITERATURA

SEGUNDO RENÉ WELLECK:
É no aspecto da “referência” que a “natureza” da Literatura transparece mais claramente. O Cerne da Arte Literária encontrar-se-á, obviamente, nos gêneros tradicionais: lírico, épico e dramático. Em todos eles, existe uma “referência”, um relacionar com um mundo de ficção, de imaginação. As afirmações contidas num romance, num poema ou num drama não representam a verdade literal: não são proposições lógicas. Existe uma diferença central e importante entre uma afirmação, mesmo a produzida num romance histórico ou num romance de Balzac que pareça comunicar uma “informação” quando publicada num livro de história ou de sociologia. Até na lírica subjetiva, o “eu” do poeta é um “eu” dramático, fictício. (pg. 27).
A Natureza e a Função da Literatura devem ser correlativas. O emprego da poesia decorre da sua natureza: todos os objetos ou classes de objetos são usados muito eficientemente e racionalmente por aquilo que são. (pg. 31).
A história da estética quase pode, resumidamente, descrever como sendo uma dialética cuja tese e antítese são o DOCE e o ÚTIL. (Dulce e o utile), como já resumia Horácio. Qualquer destes objetivos, separadamente, representa uma oposta e errada concepção no que respeita à Função da Poesia. Provavelmente é mais fácil relacionar o Dulce ET utile com base na função do que com base na natureza. A concepção de que a poesia é prazer. (pg.32).
A função da literatura segundo alguns técnicos, é aliviar-nos - sejamos escritores ou leitores – da pressão das emoções (pg.41).
A sua função primordial e principal é a da fidelidade a sua própria natureza (pg.42).
“É da natureza humana, buscar no meio em que vive esta paz interior, este equilíbrio entre o doce e o útil, o prazer que satisfaz a Alma e o Espírito e que só a Literatura proporciona, dentro de suas “obras” seja ela uma novela, um romance, um amor de vassalagem ou até mesmo um drama ou uma sátira. Esta junção de sentimentos dá forma, som, imagem, virtude e, sobretudo, pureza e beleza à obra tornando-a prazerosa, pois a produção ficcional interessa à Literatura, ela é a escrita imaginativa, deste modo é bastante fácil diferenciar a Linguagem da Ciência da Linguagem da Literatura. O signo é arbitrário e pode ser substituído por outros sinais equivalentes.
O poeta torna-se o “Criador da Obra”, desta forma teremos que reconhecer a ficcionalidade, a invenção ou a imaginação que são os traços característicos de uma obra, sendo esta uma incessante busca da fidelidade à sua própria natureza. Buscamos nos textos literários palavras com vários sentidos que vão deixando a imaginação aguçada e encantada com sua sonoridade e leveza de sentidos nos quais os poetas viajam em suas poesias, entram num mundo diferente e resgatam as mais doces e meigas palavras, somando-as de palavra em palavra chegando a um resultado ao qual chamamos de Poesia”.
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SEGUNDO ANTOINE COMPAGNON:
O nome literatura é certamente, novo (data do início do século XIX; anteriormente, a literatura conforme a etimologia, eram as inscrições, a escritura a erudição, ou o conhecimento das letras; ainda se diz “é literatura”) (pg.30)
A aporia resulta, sem dúvida, da contradição entre dois pontos de vista possíveis e igualmente legítimos; ponto de vista contextual (histórico, psicológico, sociológico, institucional) e ponto de vista textual (linguístico). A literatura ou o estudo literário está imprensado entre estas duas abordagens irredutíveis: uma abordagem histórica, no sentido amplo (o texto como documento), e uma abordagem lingüística (o texto como fato da língua, a literatura como arte da linguagem). (pg.30).
A filologia do séc. XIX ambicionava ser, na realidade, o estudo de toda uma cultura, da qual a literatura na acepção mais restrita era o testemunho mais acessível. (pg. 31).
A tradição literária é o sistema sincrônico dos textos literários, sistema sempre em movimento recompondo-se à medida que surgem novas obras. Cada obra nova provoca um rearranjo da tradição como totalidade e modifica ao mesmo tempo o sentido e o valor de cada obra pertencente à tradição. (pg.34).
A literatura seria atribuída, ainda que provisoriamente, e graças ao estudo literário, a tarefa de fornecer uma moral social. Do ponto de vista da função chega-se também a uma aporia: a literatura pode estar de acordo com a sociedade, mas também em desacordo, pode acompanhar o movimento, mas também precedê-lo (pg.37).
Para Compagnon o texto deve causar estranhamento à medida que o leitor busque novas respostas para suas dúvidas a fim de aprimorar a sua moral social. A Literatura reinava absoluta no sec. XIX, resgatando um amplo campo em meio a sociedade, onde desde de Aristóteles, Horácio e toda a tradição clássica tem por objetivo compreender o comportamento humano e a vida social, daí surge obras com Verossimilhança e a Mímese ( que são a imitação com a verdade e a vida). A literatura passa a ser o uso estético da linguagem e o portal de saída desta realidade para uma outra. Platão já citava a “Dicotomia”, ou seja a função e a forma da literatura. Já Aristóteles falava do Katharsis ou catarse( purgação ou purificação de emoções), onde colocava o prazer de aprender na origem da arte poética, ou ainda instruir agradando, levando em consideração que Literatura não é conhecimento filosófico e nem conhecimento científico bem como não se pode subestimar o poder da literatura haja vista que ela causa profundas transformações no “ser”, assim o indivíduo é um leitor solitário, um intérprete de signos, um caçador, um adivinho em busca de sua erudição para melhor compreensão do meio em que vive.
SEGUNDO JONATHAN CULLER:
Mesmo um pouco de perspectiva histórica torna essa questão mais complexa. Durante vinte e cinco séculos as pessoas escreveram obras que hoje chamamos Literatura, mas o sentido moderno da literatura mal tem dois séculos de idade. Antes de 1800, literatura e termos análogos em outras línguas européias significavam “textos escritos” ou “ conhecimento de livros”. Mesmo hoje, um cientista que diz “a literatura sobre evolução é imensa” quer dizer não que muitos poemas e romances tratam do assunto mais que se escreveu muito sobre ele. E, obras que hoje são estudadas como literatura na s aulas de inglês ou latim nas escolas e universidades foram uma vez tratadas não como tipo especial de escrita mas como belos exemplos do uso da linguagem e da retórica. ( pg.28).
Se a literatura é linguagem descontextualizada, cortada de outras funções e propósitos, é também, ela própria, um contexto, que promove ou suscita tipos especiais de atenção. Por exemplo, os leitores atentam para potenciais complexidades e procuram sentidos implícitos, sem supor, digamos que a elocução está ordenando que façam algo. (pg.32).
A comunicação depende da convenção básica de que os participantes estão cooperando uns com os outros e que, portanto, o que uma pessoa diz a outra é provavelmente relevante. O que diferencia as obras literárias dos outros textos de demonstração narrativa é que eles passaram por um processo de seleção: foram publicados, resenhados e reimpressos, pra que os leitores se aproximem deles com a certeza de que outros os haviam considerados bem construídos e de “valor”. Assim no caso das obras literárias, o princípio cooperativo é “hiper-protegido”. (pg. 33)
Para Culler, a literatura é um ato de fala ou evento textual que suscita certos tipos de atenção. O leitor é induzido a buscar no texto, repostas para o que pretende com a obra lida, pois não lhe é informado o que é literatura, o que faz com que o mesmo dê uma atenção especial para que possa encontrar nela tipos especiais de organização e sentidos implícitos, sem deixar de levar em consideração que nem todo tipo de fragmento de linguagem pode se dizer que é literatura. O leitor deve por meio do estudo, buscar as antíteses e metáforas, a fim de sentir os sons da palavra e a mensagem, e não preocupar-se só com a lingüística ou a semântica por si só. A literatura é a linguagem na qual os diversos elementos entram numa relação complexa, entre som e sentido, entre organização gramatical e padrões temáticos, no entanto, é necessário que procuremos e exploremos as relações entre forma e sentido ou tema e gramática, tentando entender a contribuição que cada elemento traz para o efeito do todo, encontremos integração, harmonia, tensão ou dissonância, sem deixar de lado esta relação que chamamos “ficcional”.
Por outro lado, lembramos Kant, que alerta para o lado da estética, que é o nome da tentativa de transpor a distância entre o mundo material e espiritual, onde o fim dos objetos estéticos é a própria obra de arte. Surge então o termo intertextualidade onde uma obra surge através de outra. As qualidades da literatura não podem ser reduzidas a propriedades objetivas ou conseqüências de maneiras de enquadrar a linguagem, mais como uma forma de proporcionar prazer e integração cultural em busca de amplitudes de conhecimentos.

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