domingo, 16 de outubro de 2011

ANÁLISE DA OBRA LUCÍOLA DE JOSÉ DE ALENCAR





Universidade do Estado do Pará - UEPA
Departamento de Ciências Sociais e Educação - DCSE
Planejamento Territorial Participativo – PTP
Curso de Letras 3º Módulo – Acará - PA




LITERATURA BRASILEIRA I








Edimilson Lobato da Silva
Raimundo Zaire Soares da Cruz
Sérgio de Sousa Lourinho






MARCAS DO ESTILO ROMÂNTICO PRESENTES NA OBRA LUCÍOLA DE JOSÉ DE ALENCAR





Publicado em 1862, a obra Lucíola de José de Alencar, é o quinto romance e o primeiro da trilogia que ele denominou de "perfis de mulheres" que inclui as seguintes obras: Lucíola, Diva e Senhora.
É um romance de amor bem ao estilo do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do Realismo aí se faça presente. Trata-se de um romance de "1ª pessoa", ou seja, o narrador da história é uma personagem importante da mesma, Paulo Silva. E ele a narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de Alencar), que as publica em livro com o título de Lucíola.
Segundo Afrânio Coutinho “O Romantismo aparece como um amplo movimento internacional, unificado pela prevalência de caracteres estilísticos comuns aos escritores do período. É, portanto, um estilo artístico – individual e de época. É um período estilístico, consoante a nova conceituação e terminologia, e perspectiva sintética, que tendem a vigorar doravante na historiografia literária”. (Introdução à Literatura Brasileira, p. 139).
Em conformidade com um trabalho de Hibbard e após analisarmos as obras Lucíola; Diva / José de Alencar; romance condensado por Celso Leopoldo Pagnan – São Paulo: Rideel, 1997 e Lucíola Texto Integral da editora Martin Claret – São Paulo, 2003, pode-se apontar as seguintes qualidades que caracterizam o espírito romântico: Sentimentalismo - Em Lucíola um mínimo contratempo é o suficiente para lançar Lúcia ou Paulo na mais profunda tristeza. Numerosas passagens do romance colocam o leitor diante de quadros profundamente sentimentais. Como esta:
“Foi terrível. Meu pai, minha mãe, meus manos, todos caíram doentes: só havia em pé minha tia e eu. Uma vizinha que viera acudir-nos, adoecera à noite e não amanheceu. Ninguém mais se animou a fazer-nos companhia. Estávamos na penúria; algum dinheiro que nos tinham emprestado mal chegara para a botica. O médico, que nos fazia a esmola de tratar, dera uma queda de cavalo e estava mal. Para cúmulo de desespero, minha tia uma manhã não se pôde erguer da cama; estava também com a febre. Fiquei só! Uma menina de 14 anos para tratar de seis doentes graves, e achar recursos onde os não havia. Não sei como não enlouqueci."( Lucíola /Diva pg.51).

E esta outra, onde Lúcia se fez passar por uma amiga morta para aliviar o sofrimento dos pais:
"Lúcia morreu tísica; quando veio o médico passar o atestado, troquei os nosso nomes., Meu pai leu no jornal o óbito de sua filha; e muitas vezes o encontrei junto dessa sepultura onde ele ia rezar por mim, e eu pela única amiga que tive neste mundo. Morri pois para o mundo e para minha família. Meus pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída."(Lucíola Texto Integral pg. 123).

Enfim, o romance todo, do início ao fim, está impregnado de uma atmosfera sentimentalista. Outra característica encontrada em Lucíola é o Subjetivismo – Segundo Coutinho “[...] É o mundo visto através da personalidade do artista. O que releva é a atitude pessoal, o mundo interior, o estado de alma provocado pela realidade exterior [...]”. (Introdução à Literatura Brasileira, p. 145). Tudo, portanto, muito subjetivo. Já no capítulo I, Paulo esclarece que escreveu essas páginas para se justificar perante uma senhora que estranhou sua opinião em relação as pessoas da sociedade da época, como mostra a seguinte citação:
"a minha (dele) excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagância." Para isso, "escrevi as páginas que lhe envio, as quais a senhora dará um título e o destino que merecerem. É um "perfil de mulher" apenas esboçado." (Lucíola Texto Integral pg. 15).
Observa-se ainda na obra a presença do Egocentrismo e Exaltação do amor, onde a personagem de Lucíola é o centro de tudo, todos têm que satisfazer suas vontades, seus desejos como em:
- "Ah! esquecia que uma mulher como eu não se pertence; é uma coisa pública, um carro de praça que não pode recusar quem chega..." (Lucíola Texto Integral pg. 76).
Em Lucíola, a temática central está exatamente na exaltação do amor como força purificadora, capaz de transformar uma prostituta numa amante sincera e fiel.
" - o amor purifica e dá sempre um novo encanto ao prazer. Há' mulheres que amam toda a vida; e o seu coração, em vez de gastar-se e envelhecer, remoça como natureza quando volta a primavera." (Lucíola Texto Integral pg. 92).
Temos também o Ilogismo, onde não há lógica na atitude romântica, e a regra é a oscilação entre pólos opostos de alegria e melancolia, entusiasmo e tristeza, como podemos observar no seguinte trecho:
“As grandes sensações de dor ou de prazer pesam tanto sobre o homem, que o esmagam no primeiro momento e paralisam as forças vitais. É depois que passa esse entorpecimento das faculdades, que o espírito, insigne químico, decompõe a miríade de sensações, e vai sugando a gota de fel ou de essência que ainda estila dos favos apenas libados”. (Lucíola Texto Integral pg. 31).
Observamos ainda o Senso de Mistério, onde o espírito romântico é atraído pelo mistério da existência, que lhe aparece envolvida de sobrenatural e terror. Individualista e pessoal, o romântico encara o mundo com espanto permanente, pois tudo – a beleza, a melancolia, a própria vida – lhe aparecem sempre novos, e sempre despertando reações originais em cada qual, independente de convenções e tradições. (Introdução à Literatura Brasileira, p. 146). Isso é encontrado na seguinte passagem:
“Um dia Lúcia chegou-se a mim com certo ar de mistério e convidou-me a ir a São Domingos. Fomos. Não sei se ainda aí perto existe um velho casebre, escondido na mata e habitado por uma velha e dois filhos, que nos hospedaram” (Lucíola / Diva pg. 49).
Dentre as muitas características do Romantismo encontrada na obra Lucíola, enfatizamos a Fé, que em vez da razão, comanda o espírito romântico. Valoriza a faculdade mística e a intuição, como podemos observar em:
“O doutor Sá, levou-me a festa da Glória.
Era “Ave Maria” quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja”. (Lucíola / Diva pg. 07). Já nos trechos “O mundo soprando seu hálito frio na intimidade de nossa existência não tinha podido separar-nos. Porem o estame delicado de sua vida depreendeu-se do meu meio. A flor mimosa de sua alma talvez sentisse que a sombra das ramas ia faltar-lhe contra os sóis abrasadores, como a proteção do tronco contra os vendavais”. (Lucíola / Diva pg. 40) e “Sentamo-nos sobre a relva coberta de flores e à borda de um pequeno tanque natural, cujas águas límpidas espelhavam a doce serenidade do céu azul” (Lucíola / Diva pg. 49).
Nesta passagem observa-se o Culto da Natureza, esta, era fonte de inspiração, guia, proteção amiga do romântico. Podemos encontrar ainda entre as várias características românticas o Retorno ao Passado, onde o autor faz alusão ao seu passado, rebuscando lembranças que conturbam sua memória como enfatiza a citação abaixo:
“– A Senhora me faz saudades de minha terra. Lembrei-me de minha casa, e das tardes que passeava assim por aqueles sítios, com minha irmã” (Lucíola / Diva pg. 10).
Encontramos ainda a Linguagem Rica em Metáforas, recurso muito usado neste estilo, onde as características do romantismo parecem estar implícitas, ou ocultadas por palavras que fazem comparação a outras formas de expressão:
“O rosto cândido e diáfano, que tanto me impressionou, tinha agora uns toques ardentes e um fulgor estranho que o iluminava. Os lábios pareciam túmidos dos desejos que incubavam” (Lucíola / Diva pg. 14).
Empolgado por sua imaginação, o autor idealiza a mulher, exagerando em algumas de suas características. Dessa forma, a mulher torna-se meiga, sublime, de atitude singela e desejada, é a Idealização da Mulher:
“[...] mas se me voltava para aquela fisionomia doce e calma, perfumada com uns longes de melancolia, o sorriso meigo e a atitude singela e modesta; e meu pensamento impreguinante de desejos lascivos se depurava de repente” (Lucíola / Diva pg. 49).
Em Lucíola, o núcleo central da narrativa se concentra em Paulo e Lúcia, ora como duas individualidades com passado e presente próprios, ora como o "par romântico". E se concentra com tal intensidade, que os episódios envolvendo os demais personagens ficam ofuscados.
O romance termina com Lucia se recusando a abortar o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto morto, dizendo “Sua mãe lhe servirá de tumulo”. E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo, prometendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo por toda a eternidade:
"Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.”
(Lucíola / Diva pg. 58).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lucíola; Diva / José de Alencar; romance condensado por Celso Leopoldo Pagnan – São Paulo: Rideel, 1997.
Lucíola Texto Integral da editora Martin Claret – São Paulo, 2003.
COUTINHO, Afrânio. Introdução a Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.





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